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Saudade!
Saudade - palavra eterna!...
Onde dá vida aos corações,
Da era antiga e moderna,
Relembra a casa paterna,
Toda cheia de emoções!...
Saudade - a voz da esperança,
Dos sonhos da meninice,
Dos meus tempos de criança,
Que ficaram na lembrança,
A primeira vez que a disse!...
Saudade - inspira pureza!...
Nas lindas cartas de amor,
São de alegria e tristeza,
Na linda voz portuguesa,
Escritas com grande amor!...
Com bastante sofrimento,
E um imortal sentimento,
De tristeza e grande dor,
De esperança e grande amor,
Foi que a palavra saudade,
Nascera dessa verdade,
Cantada por trovador!...
Adriano Augusto da Costa (1902-2004)
Adriano Augusto da Costa nasceu em Carção em 1902 mas cedo partiu para o Brasil, destacando-se como compositor e poeta, chegando a editar várias obras de grande interesse publico.
Deixamos neste espaço uma pequena homenagem e este grande poeta e filho da terra, onde costumava dizer "- Sou português de Carção", descrevendo-a sempre com grande saudade e estima.
Grão Vasco - Adoração dos Magos
Os Réis Ó de casa nobre gente Se escutardes ouvireis, Vimo-vos pedir licença Para vos cântaro reis. Se nos querem dar os reis, Comecem-nos a talhar; Nós somos de muito longe, Temos jornadas para andar. Esta casa está forrada Forrada de papelão, Os donos que nela moram, Deus lhe dê a salvação. Nós somos de gente nobre, Não cantamos por dinheiro, Cantamos por passas e figos, Entre gosto do fumeiro. Um raminho, dois raminhos, Três raminhos em seu peito, Vivam os donos desta casa, Que esta vai a seu respeito1.
1 Sofia Jerónimo - Carção, um pedacinho do Reiono Maravilhoso
Foto: Paulo Lopes "Praça de Carção"
Natal
Nesta quadra de magia,
Dum encanto sem igual,
Desejo-vos, junto de toda a família,
Um Santo e Feliz Natal.
Que as bênçãos do Natal,
Se espalhem por toda a Terra,
Eliminando tanto ódio, tanto mal,
Tanto sofrimento, fome e guerra.
Que não seja apenas fantasia,
Consumismo, luz, música e cor,
Mas haja em cada família,
Compreensão, justiça e amor.
Que o ano que se aproxima,
Seja melhor, mais venturoso.
Com saúde, paz e alegria,
Um muito Bom Ano Novo.[1]
Sofia Jerónimo
[1] Estas quadras foram oferecidas por Sofia Jerónimo à associação Almocreve do qual muito lhe agradecemos.
N.ª Srª das Graças
Comissão de Festas 2008
Relatório de Contas
A COMISSÃO AGRADECE O APOIO DE TODOS, EM PARTICULAR DAS GENTES DE CARÇÃO, NA ORGANIZAÇÃO, REALIZAÇÃO E DINAMIZAÇÃO DAS FESTAS.
O NOSSO MUITO OBRIGADO!!!
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Gottlieb-Jews Praying in the Synagogue on Yom Kippur
“Assim como meu corpo está seco,
Meus beiços lavados,
Meu sangue derretido,
Assim me outorgueis Senhor o que vos pido”1].
Adaptação da oração do Pai-Nosso, rezada pelos marranos/cristãos-novos de Carção, no século XX:
Senhor, que estais nas alturas,
Por Vossos altos favores,
Vos chamam os pecadores:
Padre-Nosso.
A Vós, Senhor, como posso
O Vosso nome invocarei,
Pois decerto, eu bem sei
Que estais nos céus;
Amparai, Senhor, um réu,
Que muito ver-vos deseja,
Que Vosso nome seja,
Santificado,
Eternamente sejais louvado,
Por tais modos:
A uma voz digamos todos:
Seja,
Do dizer ninguém se peja,
Nem o mais de Vos louvar;
Só deve triunfar,
O Vosso nome,
Matai-nos a nossa fome,
Com o bem da Vossa mão,
E do céu, meu Deus o pão
Venha a nós.
Amparai-nos sempre Vós,
Dando-nos pão e mais pão,
E por fim, em conclusão,
O reino Vosso.
Fazei que seja nosso
Esse reino da verdade;
Sempre a Vossa vontade
Seja feita.
Quando dermos conta estreita,
Convosco, meu Deus, me veja,
Para perdoar-me seja
A Vossa vontade.
Dai-nos lá, na eternidade,
À Vossa vista um lugar;
Já que andamos a peregrinar
Assim na terra,
É assim que se desterra
Uma dor como tal prazer,
Pois melhor lugar não pode haver
Como no céu.
Em tempo algum seja réu,
Por culpas que não cometi;
A todos daí, como a mim,
O pão nosso.
Eu prometo ser tão Vosso
Que por Vós morrerei;
Sempre Vos louvarei
Cada dia.
Dai-nos prazer e alegria,
Com poderes da Vossa mão,
E a todos o perdão
Nos dai hoje,
Que de Vós ninguém foge,
Antes se chegam a ti contritos;
Porque sois Deus dos aflitos,
Perdoai-nos
E por amor amparai-nos!
Felizes os que de Vós amparo têm;
Absolvei-nos, também,
As nossas dívidas,
Que por serem contraídas
Temos todos grande dor;
Perdoai-nos, Senhor,
Assim como nós
Havemos mister, e Vós,
Se acaso o perdão nos dais,
A perdoar nos ensinais,
Perdoamos.
Que é glória Vossa, e damos
O perdão por mui bem feito,
Pois perdoar é preceito,
Aos nossos,
Pois, por sermos todos Vossos,
É mui justo o perdão,
Para que não haja, não,
Devedores,
Assim como os Vossos favores,
Que qualquer é superior,
Agora, por Vosso amor,
Não nos deixeis.
Senhor, não desampareis
Barro que não é valente,
Pois se deixa facilmente
Cair;
Cuidai muito em nos acudir
Com auxílios eficazes,
Que de cair somos capazes
Em tentação;
Esteidei-nos a Vossa mão,
Senhor, com todo o cuidado,
De contrair o pecado
Livrai-nos
Meu Deus e Senhor, dai-nos
Zelo e serviço fecundo,
E livrai-nos neste mundo
De todo o mal,
Agora, diga já cada qual,
Com bem puro e firme amor:
Louvado seja o Senhor.
Amem.[2]
Orações dos marranos/cristãos-novos de Carção dos finais do século XVII
I
Ó alto Deus de Abraão,
Ó forte Deus de Israel!
Tu que ouviste a Daniel,
Ouve a minha oração.
Vós, Senhor, que vos pusestes
Lá em cima nas alturas,
Ouvi-me, a mim, pecador,
Que vos chamo das baixuras.
Pois a toda a criatura
Abristes o caminho da fonte,
Levantei ao céu meus olhos
Donde virá minha ajuda.
A minha ajuda virá
Do verdadeiro Senhor
Que fez o céu e a terra
E o mar e quanto há nela.
II
Ó meu Deus, governador!
Ouvi alto meu clamor,
Ouvi a minha oração
Que minha boca se não perca
Entregai-vos, Senhor, dela.
Não me metais em juízo
Pois tendes todo o poder.
Livrai-me da vossa ira
E tende-me de vossa mão.[3]
Aguardo tu Mercedes,
Lo que tu mi gran Dios puedes,
Me muestras tan llano e claro,
E pues le sirves de amparo
Aquel que tu gran Dios quieres.
Sem tu poder no se mueve
La menor cosa del mundo.
Muéstrame en esta ocasión
Como te acuerdas de mi.
Si los leones por ti remueven
Su condición alaben el señor
Tal impasible, en lo impasible,
Inmortal en lo inmortal;
Hoy en el paso en que estoy
Memoria quiero hecer
De todos quedan confesados
Si tanto capaz yo soy.4]
[1] Esta oração judaica foi encontrada no processo de Maria da Costa, filha de Brites Lopes e de António da Costa, gentilmente cedida por M.ª Fernanda Guimarães.
[2] Amílcar Paulo, Os judeus secretos em Portugal, ed. Labirinto, 1985, pp. 98-99; David A. Canelo, Os últimos criptojudeus em Portugal, 1987, pp. 154-157.
[3] Fernanda Guimarães e António Andrade, Carção – a capital do marranismo, 2008, pp. 57-58
[4] Esta oração judaica, em língua castelhana, foi citada por Francisco Lopes de Leão em 1667. Encontra-se também no livro: Fernanda Guimarães e António Andrade, Carção – a capital do marranismo, 2008, pp. 61-62
Foto: Paulo Lopes - Céu de Outono em Carção 29-10-2008
Foto: Feira de Artesanato 2007
Luísa Minga, 53 anos, é a última de uma família de tecedeiras de Carção, no concelho de Vimioso, aldeia onde ainda vivem cerca de uma dúzia de artesãs do tear, apesar de só já restarem cinco que o fazem esporadicamente. A avó, mãe, tias e irmãs foram tecedeiras, as filhas fugiram de uma profissão que exige uma paciência quase infinita.
Terra onde existiam de todos os ofícios, Carção chegou a ver urdir teia sobre teia entre 40 a 50 mulheres que viviam da arte de manusear o tear, ofício que não cativa as raparigas de agora e que, por isso, poderá estar em risco de extinção. As tecedeiras mais jovens já dobraram os 50 anos e, apesar de há poucos anos se ter realizado na localidade um curso de formação em tecelagem, as formandas não deram continuidade à actividade, ainda que uma se tivesse aventurado e chegado a comprar um tear. “Acabou por desistir, isto não é fácil, está toda o dia sentada”, conta Luísa Minga, que vê no peso do tear e no seu difícil transporte um entrave à entrada de jovens na actividade. Tecer é uma actividade de resignação e perserverança, de tal ordem que motivou Penélope, a mais célebres das tecedeiras conhecidas na história da humanidade, enquanto aguardava o regresso de Ulisses. Quase sempre se tece em retiro, não fossem os dedos de conversa que se trocam com quem entra e sai e com a família e a solidão seria quase total. O tear é difícil de deslocar para a soleira da porta, onde sempre se trocam opiniões com quem passa. As costas, os dedos e os olhos sofrem com a exigência do trabalho, neste caso alumiado com a escassa luz de uma fresta, em anexo de cimento, sem qualquer tipo de aquecimento e conforto. “Nunca aqui tive lume, sempre me fui arranjando assim”, garante a tecedeira de Carção.
Motivos que sobram quem quer outros trabalhos. “Isto vai acabar tudo, os novos não querem, as profissões dos pais passavam para os filhos, mas isso era dantes, as minhas filhas não querem saber nada disto, uma ainda entrou uma vez ao tear, numa manta de farrapos, mas não quis”. Ela confessa que tem pena, gosta muito, “o tear dava-se mais do que a costura, que ainda tentei aprender”.
Luísa Minga foi uma tecedeira tardia, começou bem depois do que as irmãs, que deram as primeiras laçadas ainda meninas, e do que a maior parte das jovens da terra, que aprendiam o ofício mesmo antes de se sentaram nos bancos da escola, aquelas que tinham o privilégio de se poderem alfabetizar. Casos raros. Quarta classe feita, lá pelos “11 anicos”, recorda a tecedeira, passou a andar com o pai “a caminho da horta”, como a missão de orientar a mula que andava em volta da nora para puxar água. É que o raio do bicho não se cria sacrificar sozinha em tarefa tão rodopiante. “Ela não queria andar só em volta da «noria»”, relembra. Além das tonturas de tanto andar à roda, à roda, Luísa Minga ainda andava descalça, para poupar os sapatos, já que tinha de passar por poças de água. Lá ia cantarolando uma modinha, para não dar pelo peso do tempo que tardava em passar.
A sério, a sério, só começou a tecer já casada, iniciou-se com as mantas de farrapos, depois aventurou-se pelas cobertas (colchas), porque as outras três mulheres da família, mãe e duas irmãs, já não tinham mãos a medir para as encomendas. Não foi difícil entrar no ofício de tanto que já as tinha visto tramar a teia do tear, sempre foi ajudando a fazer as franjas das ditas cobertas.
Tempos difíceis eram aqueles que exigiam viagens pelas aldeias à procura de clientela ou a levar encomendas. “Muita gente procurava, não havia estes tendeiros que andam pela porta agora a vender”. Os cobertores de lã, quentes, mas pouco “amerosos” (macios), que picavam no corpo eram feitos em Santulhão, mas elas também os armavam. “As senhoras traziam a lã, o algodão ou o linho, primeiro tingíamos a lã, da cor que era pedido, em grandes caldeirões, era nas têmperas fervíamos a lã onde deitava-mos as tintas. Tínhamos de estar sempre a mexer para não se pegar ao fundo da caldeira, era então lavada e seca ao sol”.
Havia quem fizesse uma colcha em 15 dias ou um mês, mas para tal feito era preciso estar ao tear noite e dia. “A minha mãe não saia, trabalhava madrugada fora, na encomenda das Almas, na Quaresma, parava momentaneamente quando o grupo de cantores cruzava a rua ao pé de sua casa, para não parecer mal, estar a trabalhar pela madrugada, mal passavam continuava a tecer”. As encomendas eram muitas, havia necessidade de lhe dar vazão. “Ela só vivia disto, o meu pai fazia agricultura, mas não dava nada”. Tanto esforço pouco recompensado era, as cobertas eram baratas, chegavam a ser vendidas a cinco coroas (2$50) ou cinco escudos. Mesmo assim a mãe teceu até aos 84 anos.
Luísa Minga ainda aceita encomendas, o trabalho é agora mais rentável e uma colcha das abertas, custa entre 200 a 250 euros, as fechadas vão para mais, porque exigem muito trabalho. Este ano tem tido sempre encomendas, carpetes, tapetes, naperons, “mas já não é como antigamente, vêm uma senhora ou outra por surpresa”, referiu.
Tece em qualquer material, algodão, lã ou linho. Noutros tempos tecia em linho fino, belas toalhas e lençóis. “Dava muito trabalho, como era muito fino era preciso andar sempre a bater de um lado para o outro a lançadeira, levava-me um dia a tecer três ou quatro varas, mas também havia a estopa, um linho mais grosso”.
Fonte:http://www.o-informativo.com/content/view/2046/51/
GOYA, La vendimia
Chora a videira, chora a videirinha,
Chora a videira ó prenda minha.
Chora a videira, deixá-la chorar,
Pelas uvinhas que a vão deixar.
Chora a videira, deixá-la chorar,
Pelas uvinhas que a vão deixar.
“Naquele tempo o centeio era rei. Cultivava-se com abundância em terras que não eram exigentes. Aí por volta de Junho, já com a espiga formada, cresciam-lhe uns grãos espúrios, compridos e pretos, a que chamávamos «cornichos» (para ser realista leiam cornitchos). Apanhá-los sem tombar os caules e embolsá-los num lenço atado com um nó em cada uma das quatro pontas era uma alegria pela boa safra. Os peliqueiros que vinham nas azémolas, oriundos de misteriosas terras de judeus (Campo e Carção) anunciavam-se com cantilena melódica: «hei, péis e conichoulos!». Pagavam-nos bem.
Para nós, garotos pobres, representava um bom pecúlio que até dava para comprar licor (água com açúcar escuro, claro!)às doceiras que abancavam, de graça, no exterior do adro na festa de Santa Bárbara que aí vinha. (Só bem depois, já muito civilizado, é que conheci a palavra «mesada», que nunca usei).
Para que serviriam aqueles pequenos espigões pretos oblongos? Não sei; dizia-se que era matéria-prima para fabrico de explosivos. Seria... era tempo de guerra.
«Bons tempos», como diziam há 50 anos os habituais e certeiros analistas do Balcão, e como eu vos direi quando, no Verão, nos encontrarmos”.
Procissão de Velas - 1971
Procissão de domingo - 1971
Festa da Senhora das Graças (Carção) - 1968
Festa da Senhora das Graças (Carção) - 1971
Festa da Senhora das Graças (Carção) - anos setenta
. Algumas orações dos marra...