“Naquele tempo o centeio era rei. Cultivava-se com abundância em terras que não eram exigentes. Aí por volta de Junho, já com a espiga formada, cresciam-lhe uns grãos espúrios, compridos e pretos, a que chamávamos «cornichos» (para ser realista leiam cornitchos). Apanhá-los sem tombar os caules e embolsá-los num lenço atado com um nó em cada uma das quatro pontas era uma alegria pela boa safra. Os peliqueiros que vinham nas azémolas, oriundos de misteriosas terras de judeus (Campo e Carção) anunciavam-se com cantilena melódica: «hei, péis e conichoulos!». Pagavam-nos bem.
Para nós, garotos pobres, representava um bom pecúlio que até dava para comprar licor (água com açúcar escuro, claro!)às doceiras que abancavam, de graça, no exterior do adro na festa de Santa Bárbara que aí vinha. (Só bem depois, já muito civilizado, é que conheci a palavra «mesada», que nunca usei).
Para que serviriam aqueles pequenos espigões pretos oblongos? Não sei; dizia-se que era matéria-prima para fabrico de explosivos. Seria... era tempo de guerra.
«Bons tempos», como diziam há 50 anos os habituais e certeiros analistas do Balcão, e como eu vos direi quando, no Verão, nos encontrarmos”.
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