Igreja Matriz de Carção
Vamos começar a apresentar uma das propostas para a eleição das 7 maravilhas de Carção .
Nos próximos três meses (até 7 - 7 - 7) iremos percorrer e dar a conhecer um pouco da história de cada uma das obras. Sempre que saiba informações que possamos acrescentar à nossa pesquisa, agradecemos, sendo esse um dos objectivos - angariar o máximo de factos históricos sobre cada uma das propostas.
Iniciamos o nosso percurso pela Igreja Matriz. Como acontece em grande parte do país, este é um dos edificios mais importantes, onde o homem desfruta de variadíssimos sentimentos.
Se as pedras deste imponente edifício falassem, com toda a certeza iriam contar-nos uma imensidão de histórias que se passaram no decorrer dos séculos. Alguns desses momentos são tristes e aterradores, que marcaram uma época de grande obscuridade. Quando os judeus eram condenados à fogueira, os seus nomes e esboços eram exibidos na capela-mor como forma de intimidação para os restantes cristãos-novos "...não foi por isso que foram processados, mas sim por tirar da igreja de Carção «alguns retratos de pessoas que foram relaxadas à justiça secular e nela estavam postos por ordem do Santo Ofício»" - ver Almocreve n-º 1 pp. 31-37. Foi também um espaço de divisões sociais. Em tempos, o espaço interior da igreja estava dividido ao meio por uma grande grade: os cristãos-novos eram reencaminhados para um lado e os cristãos-velhos para outro, não havendo misturas étnicas. Por vezes o edificio servia também de segurança e refúgio à população. A minha avó contou-me que a dada altura, numa bonita noite estrelada, de repente tudo se modificou e as estrelas começaram a cair do céu. Sem grande demora, os sinos começaram a dar o alerta e toda a população se refugiou dentro do edificio , pensando que chegara o dia do Juízo Final. A torre, quando algo anómalo surgia, dava sempre o primeiro alerta ou orientação aos populares. Para cada uma das situações, os sons produzidos eram alterados: incêndios, catástrofes, baptismos, casamentos, mortes, festas religiosas...
Este velhinho edifício, orago de Santa Cruz, fora já referenciada em 1296, nas Inquirições de El-Rei D. Afonso III no julgado de Algoso , onde se diz que tanto Carção como a igreja pertenciam ao Rei D. Afonso Henriques e que o pároco era eleito pelo povo, mas o Rei D. Sancho I doou-a a D. Facundo, fidalgo de Leão e este deu depois parte do seu senhorio à Ordem do Hospital.
Através deste documento, podemos concluir que a primitiva igreja de Carção era um templo medieval de características românicas e que, segundo alguns autores, desaparecera talvez devido ao mau estado que se encontrava por algum incêndio que tenha deflagrado.
Na travinca da fechadura da porta da sacristia estava gravada esta legenda: «1753. Rego me fez».
Segundo P. Miranda Lopes “nos primeiros séculos da nossa monarquia, Carção pertencia à Terra de Miranda; deveria ser o seu senhorio e o Vigário de Miranda delegado do Arcebispo de Braga, quem nomeava os capelões da sua igreja, segundo direito de padroado, que cada um tinha”.
O padroado da igreja de Carção passou para a Sé de Miranda em 1546, um ano depois da fundação da Diocese de Miranda do Douro, onde então principiou a apresentar nela os seus curas.
Segundo ainda P. Miranda Lopes: “o cura de Carção recebia seis mil réis em dinheiro, dois alqueires de trigo, dois almudes de vinho e o rendimento do pé de altar.
O mesmo estipêndio era atribuído aos curas das outras igrejas do Cabido. O muito mais que o povo dava, era para as prebendas dos felizes cónegos da Sé”.
Só a partir de 1692 é que se encontram algumas contas registadas no livro de contas das prebendas das igrejas da Mesa Capitular, respeitantes à capela-mor de Carção .
No ano de 1742, telhou-se a capela-mor e arranjaram-se os degraus do supedâeo da capela-mor.
No ano de 1749 consertou-se a sacristia, o telhado da capela-mor e a despesa foi feita à custa do cabido.
Fez-se um pequeno conserto no telhado da capela-mor no ano de 1754, mas a obra de maior vulto e mais cara foi construída entre 1758 e 1765.
António Mourinho refere que acredita que fosse mais pelos anos de 1763/64. Foi a obra da capela-mor que se fez nova de raiz. Gastou o cabido com esta obra a quantia de 135.000 réis e despendeu mais 1.0000 réis com o concerto do arco cruzeiro.
Também na mesma altura, fez-se o madeiramento da capela-mor e sacristia e gastou a quantia de 76.000 réis.
António Mourinho refere ainda: “No ano de 1768/69 já a capela-mor estava concluída e manda fazer-se a vidraça com ferros e rede para a fresta o que custou 3.400 réis.
Em 1817 os moradores de Carção fazem uma exposição ao rei D. João VI mostrando-lhe o estado de ruína em que se encontrava a igreja. Talvez fosse a parte da nave e o campanário”.
A igreja foi realmente reconstruída sem grande demora, seguindo a técnica arquitectónica da capela-mor, mas não há dúvidas que o campanário e alguns elementos que apresenta são já do século XIX, como é por exemplo o janelão da torre da fachada.
Segundo António Mourinho “Foi sem dúvida o cabido que apresentou a planta para a capela-mor e foi o mesmo que contratou os artistas para a construir. Como vimos, a obra foi paga pelo mesmo cabido e era ela que cuidava de todas as obras necessárias à construção e reparo da capela-mor e sacristia.
Apareceu-nos um documento que atrás citámos e que data de 1817, onde podemos ver que já não era o cabido que dispunha, mas a mesa de Consciência e Ordens. Devia ter sido debaixo da orientação do arquitecto real que a obra do corpo e campanário da igreja de Carção se construíram, pena é que não saibamos os artistas que trabalharam nesta obra e todos os custos. A obra deveria ter sido acabada antes de 1820.
A igreja de Santa Cruz é de planta rectangular, muito simples, como a capela-mor e sacristia do lado do Evangelho.
Se tiver conhecimento de outras informações acerta deste tema, não exite em enviar-nos.
Para ler mais sobre o assunto, ver: Almocreve, n.º 1, pp.23 à 27.
. Algumas orações dos marra...